Comissão de energia nuclear aprova local de instalação da maior mina de urânio do Brasil
Projeto ainda precisa passar por novas etapas e obter licença ambiental do Ibama para começar a funcionar.

Mina em Santa Quitéria, no Ceará, pode ser usada para extração de urânio e fosfato caso empreendimento seja aprovado — Foto: Arquivo SVM
A usina de Santa Quitéria é uma promessa e uma polêmica no Ceará. Ela tem apoio do governo estadual, mas desperta questionamentos de comunidades e pesquisadores sobre os riscos que a exploração do minério pode trazer aos trabalhadores e à população local, entre outros impactos.
O contato com o urânio, metal pesado e instável, traz riscos reconhecidos pela comunidade científica. Especialistas apontam possíveis impactos para as pessoas e também para a biodiversidade.Em setembro de 2023, o governo do Ceará renovou o memorando de entendimento com o Consórcio Santa Quitéria.
O documento assinado pelo governador Elmano de Freitas (PT) é válido pelos próximos cinco anos e prevê que o governo coopere para a implantação do projeto. Uma das expectativas do governo é que a usina estimule o crescimento econômico da região e do estado como um todo.
Para a fase de implantação, o Consórcio Santa Quitéria prevê um investimento de R$ 2,3 bilhões. Para a região de Santa Quitéria, devem ser gerados 2,8 mil empregos diretos e 5,6 mil empregos diretos na fase de construção do complexo de beneficiamento.
Quando ele estiver em operação, a previsão é de 538 empregos diretos e 2,3 mil postos de trabalho indiretos. Mesmo se conseguir todas as licenças necessárias até o fim do ano, a usina ainda deve demorar para começar a funcionar.
As obras de instalação devem durar dois anos e meio. Neste cenário e com a licença de operação aprovada, o complexo poderia começar a produzir entre o fim de 2027 e o começo de 2028.Como funcionará a usina.
O mineral encontrado na jazida de Itataia é o colofanito, que traz o fosfato e o urânio juntos. A operação prevista para explorar a mina inclui várias fases, que resultam na produção do concentrado de urânio e de fertilizantes fosfatados.
As principais etapas de produção:
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Mineração a céu aberto: as rochas com urânio e fosfato são retiradas, britadas e moídas.
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Calcinação: nesta etapa, os minerais são separados, resultando no concentrado de rocha fosfática.
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Produção do ácido fosfórico: o concentrado de rocha fosfática é misturado com água e ácido sulfúrico, produzido em uma unidade industrial instalada no complexo. Nesta fase, são obtidos fosfogesso e cal, que serão estocados na pilha de rejeitos.
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Purificação do ácido fosfórico: o urânio e o fosfato são integralmente separados no sistema de extração por solventes. Os dois produtos desta fase são o licor de urânio e o ácido fosfórico sem urânio.
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Produção do concentrado de urânio: na instalação de urânio, o licor é transformado em uma pasta e, em seguida, vira um pó amarelo (também conhecido como "yellow cake"). Este concentrado de urânio é armazenado em tambores e transportado para o Porto do Pecém, de onde será exportado para outro país. De volta ao Brasil, o material será levado para a fábrica da INB no Rio de Janeiro e transformado em pastilhas e combustíveis nucleares, que servirão para gerar energia nas usinas nucleares de Angra dos Reis.
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Fabricação de fertilizantes: com o ácido fosfórico, serão fabricados em Santa Quitéria adubos fosfatados para a agricultura e fosfato bicálcico, componente essencial para rações e suplementos para animais. Os produtos se destinam a produtores do Norte e Nordeste do país.
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Pilhas de rejeitos: a estação a seco, com fosfogesso e cal, foi uma mudança no projeto para eliminar as barragens de rejeitos.
A estimativa é de produzir anualmente: 1,05 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados, 220 mil toneladas de fosfato bicálcico e 2,3 mil toneladas de concentrado de urânio.